Estrangeira...

Posso estar sendo redundante ou até mesmo fastidiosa, mas é que quanto mais eu vivo, quanto mais eu respiro esse ar impuro, cheio de maldade, de crime, de tristeza.

Esse ar que eu sou obrigada a inspirar milhares de vezes por dia me envenena e me enlouquece. Esse ar que preciso dividir com gente egoísta, egocêntrica, intragável.
Sou uma estrangeira nesse mundo. Sinto-me assim. Como se não pudessem entender minha língua, como se ninguém entendesse nada do que eu digo, do que eu sinto.
Meus ouvidos estão cansados de tentar entender o som confuso do mundo. Eu não quero mais!
Eu não quero entender. Não preciso.
Não sei qual a minha missão aqui, nem porque me jogaram aqui, logo aqui, mas cá estou e cada vez mais me convenço que seja qual for o meu papel, não é esse.
Acredito que estar aqui é uma falha do destino, ou seria de Deus? Onde eu poderia estar além de aqui? Não sei. Só sei que muitas vezes eu não queria estar.
Me cega ver mães rejeitando filhos. Fere-me a alma ver a fome, a doença do mundo, a injustiça. Me revolta a indiferença, a falta de amor.
Esse mundo não é meu. Não é o que escolhi.
Não é o que eu desejo aos que eu me importo que eu ame...
Eu não tenho vocação pra ser feliz. Não aqui, não hoje, não dessa forma.
Cansei de sentir medo, raiva, mágoa. Cansei. Fui à fadiga. Agora, espero o tempo se encarregar de resolver, porque eu estou de mãos atadas. Estou amordaçada. Cega, surda e muda.
Estou prostrada diante da realidade.